Insisto, não acredito neles, e como eu acho
necessário, vou espraiar um pouco mais as razões da minha descrença:
Embora a objetividade não exista como tal
na expressão humana direta (e isso não sou eu que digo, mas a Antropologia
Social em um eterno debate jamais resolvido), ou seja, se no diálogo entre duas
pessoa a voz sempre imprime alguma
subjetividade, ela é muito menor que a que a que subjetividade que inevitavelmente
vaza na comunicação mediada , porque ali se soma a esta outra mais poderosa,
que responde à interesses econômicos que são os que, em última análise, ditam o
caminho de todos os discursos midiáticos. Mesmo neste cenário acho que se pode buscar algum resquício de objetividade,
mas dificilmente ele será encontrado no que se vê ou se ouve no Clarín ou no 6,7,8.
Mas eu tenho que ser justo, já que escrevi
um texto que me valeu algumas críticas e o seguinte elogio: “Que elegante esporro". Então, como apontei, principalmente, os meios de comunicação de
cada lado desta guerra, à propaganda de cada facção, devo agora ao menos
enumerar as características da cobertura da manifestação que cada um dos dois meios
fez, e eu vou fazer isso em duas partes:
Transmissão real e transmissão codificada
O Grupo Clarín não transmitiu ao vivo à
marcha. Durante toda a jornada emitiu imagens produzidas “agora há pouco”, o
que vale dizer que cobertura dos fatos foi editada. Por quê? Por medo? Devido à
censura de quem? Como resultado o que se viu foram declarações de manifestantes
que, apesar de reais, estavam carregadas de um manto de opacidade próprio da
edição, em um ato cívico que pedia outra coisa.
A TV pública pôs uma equipe jornalística
que, ao vivo, transmitiu os fatos. A jornalista Cynthia García perguntava aos
cidadãos porque haviam se juntado à manifestação e seguia inquirindo-os,
buscando solidez nas explicações apresentadas.
O resultado foi que alguns manifestantes
apresentaram argumentos sólidos para sua decisão de sair às ruas para reclamar,
a jornalista não lhes tirou o microfone e, em geral, os próprios manifestantes
terminaram felicitando a equipe pelo seu trabalho. Muitos outros se basearam em
slogans vazios que mais pareciam discursos que, repetidos até a exaustão, vão
se transformando em verdades para que os dizem. Outros preferiram a violência
como declaração, verbal, em muitos casos, e física em outros (entre esses se pôde
ver alguns militantes que obedeciam a de Pando, ativista de extrema direita).
O povo ignorante como arma máxima
Creio que 6,7,8 transmitiu ao vivo porque estava
consciente de que as pessoas que marchavam o fazia por distintos motivos,
gerando uma massa heterogênea sem voz clara e sem representação. Nesse cenário
quem saiu à rua com consignas e argumentos claros se perdeu na maré de
ignorância e da reclamação incerta, e foi ainda mais submerso pela violência
cega de certos manifestantes, alguns deles seguidores da agrupação de Pando,
(visivelmente drogados) que ao grito de “Viva!” confraternizavam com os
“companheiros” caídos durante governo “dela”. O programa da TV pública espremeu
ao máximo os casos de ignorância reinante em um grande número de manifestantes
com o simples e lícito ato de abrir-lhes o microfone.
Da sua parte, Clarín, temeroso de que essa
ignorância pusesse em evidência o que havia de duvidoso em muitas das
reclamações, não se arriscou a transmitir ao vivo. Em vez disso, como eu já
disse, transmitiu com atraso suficiente para a “atualizar” a ignorância que
muitos manifestantes cuspiam, segundo as conveniências. Mas não só essa omissão
da voz autêntica é o uso, passivo, que Clarín deu à incultura popular. O Grupo também
fez e faz uso ativo dela, demostrando nas repetições maquinais das pessoas
denúncias feitas, por Lanata, por exemplo, no passado, das quais Clarín teve
que se retratar por serem dados falsos ou manipulados. Também Beatriz Sarlo, no
La Nación, criticou que a jornalista de 6,7,8 por questionar os manifestantes,
marcando ela, ao programa e ao governo de pedantes. Em um desses casos de pedantismo a jornalista
pergunta a uma mulher porque estava ali, e ela diz que entre outras coisas para
recuperar à liberdade jurídica, ao que Cynthia pergunta o que é a liberdade jurídica.
Em resposta a mulher lhe diz que não é advogada e não sabe o eu é.
Uma e outra facção utilizou essa ignorância
em seu próprio benefício, e ambas usaram a técnica de cobertura que melhores
resultados lhes podia dar, ou que consequências menos prejudiciais lhes
provocariam. A grande diferença é que entre uma e outra utilização, sem dúvida,
a que mais se aproxima a produção de informação verdadeira é aquela que permite
dizer e não esconde, a que mostra e não omite.
Eu digo que quando foi perguntado às
pessoas, em 2001, por que elas estavam na rua batendo em panelas as respostas,
todas elas foram naturais, autênticas, unânimes e concluintes. Algo muito
diferente ocorreu quando, nesse 8 de novembro, a TV pública abriu o microfone e
quando Clarín o codificou. A ignorância responde, entre outras coisas, à falta
de preparo, à falta de recursos, à impossibilidade de educar-se e, apesar de em
2001 as pessoas que se manifestaram provinham dos extratos mais baixos, dos
mais castigados, enquanto que agora as vozes foram principalmente da classe
média, daqueles que contaram com mais recursos para combater esse flagelo. Esta
contradição vem dizer que a verdade, quando está na cara, é iniludível e que a
incultura, a negação e a manipulação da informação são, independente da sua
procedência ou causa, ativos que dão muito, muito caldo, sendo a ignorância e
sua utilização um dos capitais mais frutíferos que existem.
Está claro que um grande número de
argentinos tem que lidar com numerosos inconvenientes e injustiças, isso
aconteceu historicamente e a atualidade não é exceção, mas o que aconteceu
neste 8 de novembro não é o caminho. A presidenta sabe disso e já declarou que
é seu desejo que os desconformes tenham uma plataforma de representação
política, mas também sabe que é improvável a sua aparição, por isso o declara e
esta certeza imprime aos seus argumentos uma enorme confiança. Eu também creio
nessa afirmação, considero a consolidação dessa representatividade de suma
urgência, e suspeito de sua probabilidade. A diferença e que isto não me produz
nenhuma confiança, pelo contrário. E seu tenho uma certeza é a que me dita
minha ignorância atacada, os valores e conhecimentos que durante a vida me
foram diminuindo minha incultura. E essa certeza me diz que essa representação
não é, nem pode ser, embandeirada pelo Grupo Clarín.
Tradução de
Juan Nahuel