A panela foi sempre um artefato de vital importância na minha vida. Por tudo o que representa, por ter
sido sempre o símbolo do que eu sempre tive que bancar, para garantir que a
família pudesse comer. Meus velhos, nos meados dos anos oitenta, se encontraram
muito mais de dez vezes apenas com farinha, sal, tomate e o fogo de um forno de
barro para encher a nossa panela, a memória que enche o meu peito de orgulho.
Em 2001, a panela foi a estrela da manifestação mais espontânea do povo
argentino, pessoas sem mais (nem menos) do que o seu poder de pressão, causada por
funda raiva e profunda vergonha, fome e dignidade, foram às ruas e
marcharam tendo as panelas como bandeiras, panelas vazias como tambores,
panelas cheias de raiva, como escudos honrados contra a impotência.
Eu me lembro da cara e das palavras de uma
mulher que entre panelaço e panelaço declarou frente às câmeras de Pino
Solanas: "... pelo menos eu desafogo com a panela, a panela que fez purê para
meus filhos... Para que cada vez que a veja saiba que, se me roubam, me roubam
porque eles são uns sem-vergonhas , mas eu lutei pelos meus direitos ... "
Desde esse dezembro a panela tornou-se uma poderosa
arma revolucionária, sentou precedente, deu a volta ao mundo e mudou a
história.
Hoje, 08 de novembro, a panela saiu às ruas
novamente. Nem preciso mencionar as diferenças entre uma situação e outra. Eu
não acredito no Clarín, nem no 6, 7, 8, embora eu deva admitir que pelo último
eu tenho alguma simpatia, e pelo primeiro nenhuma. Não acredito neles porque a
Argentina vive uma guerra entre o governo e o monopólio do grupo Clarín, e nas
guerras se há algo que é difícil de encontrar é a objetividade.
É claro que eu tenho uma postura tomada e firme
nessa disputa, se Clarín reage diante de um "ataque" do governo, que
tenta emendar uma lei que garanta a pluralidade e a transparência das vozes e
imagens mediadas, se Lanata declara: "... Eu me pus sempre ao lado do mais
fraco, e o mais fraco é o Clarin ...", se esta luta ocorre em um momento
em que o meu país é claramente melhor do que anos atrás, se este confronto
demonstra como cada lado é e quais são os interesses que cada um deles
persegue... Enfim, considerando o curso da água, de que lado vou ficar? Eu
tenho isso claríssimo, mas sou uma pessoa limitada e conheço, ou acho que conheço,
minhas limitações. E já que eu não conto com as armas culturais para fazer uma
análise minuciosa, bem como, insisto, não acredito que nem no Governo nem no
Clarín, eu não vou entrar em camisa de onze varas.
No que eu acredito, ainda acredito, e nas
pessoas. As escuto e presto atenção, na TV, as leio e analiso nas redes
sociais, as observo e examino nas ruas. Eu escuto os K e aos e anti-K, escuto e
aprendendo, e escuto também àqueles que não estão em nenhum dos lados, que
estão no meio da rua, que não forçam para nenhum dos lados, ou se forçam,
forçam pra frente. Acredito em todos eles, nos K, nos anti K, e principalmente
nos que estão no meio, que são os que eu mais gosto. Acredito em todos porque todos
dizem a verdade, cada um a sua, e com todas essas verdades armo a minha.
E com essa verdade que eu acredito, claro, na
panela. Aquela panela que meus pais encheram com esforço, a que mudou a
história, e que hoje saiu às ruas novamente, desta vez sem repressão, no meio
de uma democracia real . Ela, que se encheu de prestígio nos anos oitenta,
graças aos esforços de minha família, e, em 2001, graças a essa mulher que eu
vi na TV, graças a todo um povo. Na panela eu acredito, essa panela eu amo, eu
quero panela.
Celebro as manifestações, as respeito, até as de
hoje. Aplaudo aos povos que cobram de seus governos, pois nosso papel é exigir
e o deles é cumprir. Mas temos de ter cuidado com a panela, a panela é bandeira
que não se mancha e eu acho hoje a estão desprestigiando, temo que estejam se
fazendo, sem saber, uma armadilha de panelas.
Tradução de Juan Nahuel
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